o prêmio energisa de artes
visuais prossegue a sua agenda de exposições de artistas convidados com a
mostra tempo para o destino (de 20 de junho a 8 de julho de 2012) da artista
plástica paraibana marlene almeida. inaugurado em setembro de 2011, com a
mostra divortium aquarum, do paraibano josé rufino, o prêmio realizou, desde
então, duas mostras coletivas e uma individual com artistas brasileiros,
contemplando a produção dos artistas laércio redondo (pr), braz marinho (pb),
amanda mei (sp), chico dantas (pb), aoleo (rj), júlio leite (pb) e mais
recentemente o mineiro márcio sampaio.
aos 70 anos de idade,
marlene almeida dá continuidade à pesquisa com pigmentos naturais que começou
no final dos anos 1970, quando realizou a sua primeira exposição individual (em
1979) na fundação cultural da paraíba. desde a década de 90 o trabalho
da artista tem como foco o tempo, ou mais especificamente, a passagem do tempo.
“a impermanência ou a fragilidade é uma das maiores angústias do ser humano.
tendo desenvolvido a capacidade de pensar, o homem racional é condenado a
entender-se passageiro. impossível mudar a realidade. difícil caminhar sobre o
aguçado fio da navalha”, reitera marlene.
em 1990, a artista montou a
exposição passatempo, com objetos efêmeros, que lembravam ampulhetas
modificadas. a exposição foi apresentada no centro cultural são francisco, em
joão pessoa, e depois na galeria valú ória, em são paulo e no ICBRA, em berlim,
na alemanha. as exposições seguintes também falavam do tempo: tempo (no NAC,
UFPB), zeit vergeht, der natur der zeit (galerie drei, em dresden, na
alemanha), grenze (galerie forum, berlim), limite (NAC, UFRN), zeit/grenze
(galerie weisser elephant, em berlim), resistentes (NAC, UFPB) e passageiros
(galeria sierra, joão pessoa).
a exposição tempo para o
destino toma dos monitores dos voos internacionais, o aviso do tempo que falta
para chegar ao próximo aeroporto: time to destination. fora do contexto e sem a
informação do tempo restante, a expressão passa a indicar um destino
desconhecido, incerto, sem data ou horário previsto. “que destino? o seu? o
meu? o de todos? o do planeta? e, se não sabemos qual é o destino, como contar
os dias, marcar os minutos, os segundos?”, questiona a artista.
um conjunto de objetos,
tubos em tecido laminado, prata, cobre, cinza, preenchidos com areia como
ampulhetas onde o tempo não pode passar, parece expressar o desejo de todos.
outro conjunto de objetos suspensos e iluminados lembra o modo mais ancestral
de medir o tempo: as varas de sombra.
a exposição também apresenta
pinturas, em têmpera sobre tela. ainda tendo como foco a precariedade, ou a
ação implacável do tempo, no fundo claro (terra branca) surgem restos vegetais
retorcidos, fragmentos da natureza, a grande paixão da artista, em cores
escuras e tons terrosos; sendo duas pinturas grandes, medindo 200x260cm cada; 3
trípticos, de 140x 210cm; um díptico, e um conjunto de telas de pequenos
formatos, de dimensões variadas.
ao longo de mais de três
décadas dedicadas ao aprofundamento da sua pesquisa, marlene almeida construiu
uma obra em que o resultado estético é fruto das suas inclinações
político-ideológicas, resultando numa confluência de força e sensibilidade
raramente vistas nas artes visuais. sua obra é uma extensão do seu pensamento
sobre a condição e a fragilidade humanas. “como caminhar ao contrário, pisando
nas mesmas marcas se o retorno é impraticável, e os rastros se apagaram? como
enganar o tempo, este inimigo invisível, e sair como louca, ocultando-me do
mesmo, e virando tudo ao avesso, como um rio que estanca ante o desaguadouro
natural, rejeita o mar e lança-se, não mais como um filete manso, mas como uma
torrente caudalosa e voraz, em busca da sua nascente? afinal não é esse nosso
desejo mais intenso? revolver a vida ou pelo menos, parar ante o inevitável
destino?”, reflexões de uma mulher, mãe, militante, ativista e artista, que ao
longo de sete décadas não se curvou à cronologia do tempo.