sexta-feira, 15 de junho de 2012

marlene almeida, tempo para o destino







o prêmio energisa de artes visuais prossegue a sua agenda de exposições de artistas convidados com a mostra tempo para o destino (de 20 de junho a 8 de julho de 2012) da artista plástica paraibana marlene almeida. inaugurado em setembro de 2011, com a mostra divortium aquarum, do paraibano josé rufino, o prêmio realizou, desde então, duas mostras coletivas e uma individual com artistas brasileiros, contemplando a produção dos artistas laércio redondo (pr), braz marinho (pb), amanda mei (sp), chico dantas (pb), aoleo (rj), júlio leite (pb) e mais recentemente o mineiro márcio sampaio.

aos 70 anos de idade, marlene almeida dá continuidade à pesquisa com pigmentos naturais que começou no final dos anos 1970, quando realizou a sua primeira exposição individual (em 1979) na fundação cultural da paraíba. desde a década de 90 o trabalho da artista tem como foco o tempo, ou mais especificamente, a passagem do tempo. “a impermanência ou a fragilidade é uma das maiores angústias do ser humano. tendo desenvolvido a capacidade de pensar, o homem racional é condenado a entender-se passageiro. impossível mudar a realidade. difícil caminhar sobre o aguçado fio da navalha”, reitera marlene.

em 1990, a artista montou a exposição passatempo, com objetos efêmeros, que lembravam ampulhetas modificadas. a exposição foi apresentada no centro cultural são francisco, em joão pessoa, e depois na galeria valú ória, em são paulo e no ICBRA, em berlim, na alemanha. as exposições seguintes também falavam do tempo: tempo (no NAC, UFPB), zeit vergeht, der natur der zeit (galerie drei, em dresden, na alemanha), grenze (galerie forum, berlim), limite (NAC, UFRN), zeit/grenze (galerie weisser elephant, em berlim), resistentes (NAC, UFPB) e passageiros (galeria sierra, joão pessoa).

a exposição tempo para o destino toma dos monitores dos voos internacionais, o aviso do tempo que falta para chegar ao próximo aeroporto: time to destination. fora do contexto e sem a informação do tempo restante, a expressão passa a indicar um destino desconhecido, incerto, sem data ou horário previsto. “que destino? o seu? o meu? o de todos? o do planeta? e, se não sabemos qual é o destino, como contar os dias, marcar os minutos, os segundos?”, questiona a artista.

um conjunto de objetos, tubos em tecido laminado, prata, cobre, cinza, preenchidos com areia como ampulhetas onde o tempo não pode passar, parece expressar o desejo de todos. outro conjunto de objetos suspensos e iluminados lembra o modo mais ancestral de medir o tempo: as varas de sombra.

a exposição também apresenta pinturas, em têmpera sobre tela. ainda tendo como foco a precariedade, ou a ação implacável do tempo, no fundo claro (terra branca) surgem restos vegetais retorcidos, fragmentos da natureza, a grande paixão da artista, em cores escuras e tons terrosos; sendo duas pinturas grandes, medindo 200x260cm cada; 3 trípticos, de 140x 210cm; um díptico, e um conjunto de telas de pequenos formatos, de dimensões variadas.

ao longo de mais de três décadas dedicadas ao aprofundamento da sua pesquisa, marlene almeida construiu uma obra em que o resultado estético é fruto das suas inclinações político-ideológicas, resultando numa confluência de força e sensibilidade raramente vistas nas artes visuais. sua obra é uma extensão do seu pensamento sobre a condição e a fragilidade humanas. “como caminhar ao contrário, pisando nas mesmas marcas se o retorno é impraticável, e os rastros se apagaram? como enganar o tempo, este inimigo invisível, e sair como louca, ocultando-me do mesmo, e virando tudo ao avesso, como um rio que estanca ante o desaguadouro natural, rejeita o mar e lança-se, não mais como um filete manso, mas como uma torrente caudalosa e voraz, em busca da sua nascente? afinal não é esse nosso desejo mais intenso? revolver a vida ou pelo menos, parar ante o inevitável destino?”, reflexões de uma mulher, mãe, militante, ativista e artista, que ao longo de sete décadas não se curvou à cronologia do tempo.

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